As cartas de Ellen White a seus irmãos adventistas, embora consistam de conselhos, sugestões, repreensões e encorajamentos, não raro apresentam teologia muito mais robusta, precisa e clara que os tratados teológicos. Há uma razão para isso ser assim: a Sra. White instruía a partir da Bíblia e não das tradições. Muita da oposição que se faz a ela simplesmente desapareceria da noite para o dia caso os sistemas teológicos que se impõem sobre a literalidade bíblica subitamente ruíssem, livrando assim o caminho entre as mentes sinceras e o conhecimento de Deus.
Um belo e vigoroso exemplo de como uma breve carta de Ellen White é mais segura teologia que os textos teológicos disponíveis está em Testemunhos Para a Igreja vol. 5, nas páginas 513 a 516. Trata-se de uma carta endereçada a um jovem cristão sob o título O Exercício da Vontade, na qual se encontram imponentes verdades, legítimas joias que desafiam alguns séculos de tradições teológicas. As poucas palavras ali contidas, se lidas com atenção, são suficientes para virar de ponta-cabeça muitas noções religiosas perniciosas que carregamos conosco desde o berço. Portanto, a leitura completa do texto, que pode ser feita em poucos minutos, é um bom ponto de partida. Ela pode ser feita acessando o link:
Percebamos na carta que a Sra. White (1) faz uma forte afirmação da liberdade humana; (2) menciona duas vezes Filipenses 2:13; (3) explica o modo com que a vontade humana e o poder de Deus cooperam. A proposta aqui é que reflitamos brevemente a respeito de cada um destes três pontos marcantes da carta.
Primeiro ponto: a vontade e a liberdade humana
Ao longo de toda a carta, quem a lê com atenção pode notar, há evidentes afirmações atestando o fato de que a vontade humana é definitivamente propriedade do indivíduo e de que cabe a ele direcioná-la:
“Suas promessas ou sua fé não têm qualquer valor ENQUANTO NÃO PUSER a vontade ao lado da fé e da ação. Se combater o combate da fé com toda a SUA força de vontade, há de vencer.”
“Cumpre-lhe sujeitar SUA vontade à vontade de Jesus Cristo…”
“SUA vontade, porém, deve cooperar com a vontade Deus…”
“Será preciso, por vezes, toda partícula de força de vontade que VOCÊ POSSUI…”
“… deve lembrar-se que SUA vontade é a força de todas as suas ações…”
“Eu sei o que você pode ser, SE COLOCAR SUA VONTADE ao lado do Senhor.”
Algo já fica suficientemente esclarecido: o homem não está completamente entregue à depravação total ou ao pecado original, tal como Agostinho e os primeiros reformadores afirmavam. Há algo da vontade humana QUE NÃO FOI ENTREGUE ao domínio do inimigo de Deus. Caso a vontade humana estivesse inteiramente sob o controle de Satanás, não haveria por que aconselhar alguém a entregar sua vontade a Deus, pois essa vontade seria unicamente a de Satanás e não a do indivíduo. É obviamente inútil pedir ao próprio Satanás que ele entregue sua vontade a Deus. Dada a insistência da Sra. White neste ponto, creio ser desnecessário demorar-me no raciocínio. A carta fala por si mesma e é uma decidida declaração da liberdade humana.
Segundo ponto: Filipenses 2:13
Algo surpreendente é a menção a Filipenses 2:13, em que se lê:
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.”
Ora, certamente não era de se esperar que a Sra. White invocasse esse verso no mesmo momento em que afirmava em tons tão fortes a liberdade do homem manifesta em sua vontade. Filipenses 2:13, desde Agostinho, tem sido um trunfo nas mãos de quem prega a total incapacidade humana de resistir ao mal ou mesmo a completa inexistência do livre arbítrio. Se é Deus quem opera tanto o querer quanto o efetuar, argumenta-se, não sobra nada mais para o ser humano fazer. O homem, assim compreendido, é um não-agente. E uma vez que se constata que o ser humano peca, ele é um não-agente do mal: peca automaticamente por meio de comandos malignos que a ele foram impostos.
A lógica calvinista, herdeira direta da tradição agostiniana, apresentará a interpretação de Filipenses 2:13 mais ou menos nestes termos: pecador compulsivo bestial e irracional, o ser humano é intrinsecamente imune aos sutis trabalhos de convencimento empreendidos pelo Espírito Santo. Quando Deus deseja salvá-lo, não Lhe resta alternativa a não ser lançar mão da brutalidade física. Deus, em um golpe violento, põe no pecador uma inclinação às coisas santas e, antes que ele tenha tempo para pensar no assunto, leva-o a praticar boas obras. Nessa visão, é muito importante destacar, Deus, enquanto age, não se pode dar ao luxo de permitir que o homem tenha tempo para raciocinar e avaliar. Se o fizesse, imediatamente veria Seu trabalho frustrado, pois o homem rapidamente retornaria às práticas ímpias que o pecado original o conduz a fazer. Ademais, na lógica calvinista, o tempo verbal empregado em “opera” deve ter sido um equívoco ou um lapso do Apóstolo Paulo, pois “opera” passa a ideia de que Deus age constantemente e em tempo real. O Deus de Calvino, Agostinho e Platão não interage com o tempo. Se Paulo escreveu “opera”, na verdade ele queria dizer “operou”. A leitura correta de Filipenses 2:13 na boa tradição agostiniana seria: “desde a eternidade e por meio de um único e irrevogável decreto, Deus operou em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.”
O raciocínio arminiano é ligeiramente diferente: Deus é onipotente e realiza no homem tanto o querer quanto o efetuar, mas não agindo diretamente nas escolhas humanas e tomando as decisões pelo homem. Ao invés disso, Deus, desde a eternidade pregressa, olhou adiante no futuro e viu o destino de cada ser humano, desse modo predestinando à salvação cada indivíduo que Ele viu salvo e à perdição cada indivíduo que Ele viu perdido. Com isso, dizem os arminianos, Deus apenas soube a respeito do querer e do efetuar de cada homem, dessa forma operando em cada qual o querer e o efetuar, mas sem causá-los diretamente. Essa visão é certamente pior que a calvinista, pois ela sequer se adéqua ao texto, que explicitamente afirma que Deus opera diretamente o querer e o efetuar do homem. Além disso, embora seja uma tentativa de incorporar ao verso o elemento da vontade humana, essa visão de fato não o faz. Quando Deus olha para um indivíduo muito antes de ele nascer e enxerga de antemão sua salvação ou perdição, inevitavelmente reduz a nada a vontade deste feliz ou pobre ser (feliz se Deus o enxerga salvo ou pobre se Deus o enxerga perdido). O efeito final é bizarro: a mensagem é a de que há alguém ou algo operando o querer e o efetuar do homem, mas essa pessoa ou coisa não é diretamente Deus, pois Ele respeita a liberdade humana. Esse alguém ou algo que opera o querer e o efetuar, que portanto não é Deus, também não poderia ser o próprio homem, pelo simples motivo de que ele não estava lá na eternidade pregressa quando seu querer e efetuar JÁ EXISTIAM e foram conhecidos por Deus. Pessoas que não existem não possuem vontade nem agem, do mesmo modo que os mortos nada sabem. No final das contas, acaba-se negando o verso (que diz que Deus de fato opera no homem), a liberdade humana segue inexistente, tal como na versão calvinista, e surge ainda uma pergunta assustadoramente inquietante: se Deus viu desde a eternidade a perdição de um indivíduo, mas não a causou e nem o indivíduo a escolheu, pois não estava lá para o fazer, quem é esse ser ou essa coisa que estava lá com Deus na remota eternidade e provocou esse triste acontecimento? Qualquer resposta seria seguramente absurda. Não se trata aqui de um mistério, mas de falta de sentido. Se alguém pergunta: “Como pode uma esfera ser um cubo?”, ninguém certamente responderá que isso é um mistério. A pergunta não faz sentido.
Por essas e por outras, os debates entre arminianos e calvinistas em geral se assemelham a competições de tiro ao alvo entre atletas que estão com os olhos vendados e os pés e mãos atados. Dadas as visões popularizadas pelas correntes teológicas atualmente vigentes, Filipenses 2:13 é o tipo de verso que, quando alguém o lê, pode ficar seriamente tentado a arremessar a Bíblia na parede e parar de se incomodar com religião, diante da constatação de que não possui vontade própria ou qualquer relevância no mundo. E quem estiver bem treinado em um dos atuais sistemas teológicos ou em ambos de pronto julgará haver alguma coisa errada na cabeça da Irmã White e dirá a si mesmo que reconhecer a realidade do livre arbítrio e citar Filipenses 2:13 em uma mesma frase é atestado de loucura.
Mas certamente fica pior. Não apenas ela reafirma o livre arbítrio e menciona Filipenses 2:13, como ainda traz uma informação nova e perturbadora a respeito do verso:
“Esta vontade, que constitui tão importante fator no caráter do homem, foi, pela queda, entregue ao domínio de Satanás, e desde então ele tem estado operando no homem o querer e o realizar, segundo a sua vontade, mas para inteira ruína e miséria humana.”
Ou seja, haveria um pequeno grande detalhe em Filipenses 2:13: não é apenas Deus quem efetua no homem o querer e o realizar, pois que Satanás faz exatamente a mesma coisa. Por que soa de repente em nós, nesse momento da carta, um alerta de blasfêmia? Por um motivo simples: fomos treinados a pensar que Filipenses 2:13 é a declaração máxima da onipotência e/ou onisciência divina que passa como um rolo compressor por cima de tudo o que existe no ser humano: vontade, liberdade, consciência, inteligência, raciocínio, sentimentos e o que mais se imaginar que ele possua. Se dissermos que Satanás também opera o querer e o efetuar, estamos dizendo que ele é onipotente e/ou onisciente nos mesmos moldes de Deus. Configurada uma blasfêmia de altíssimo grau.
E a situação só tende a piorar exponencialmente se insistirmos em entender as afirmações da Sra. White sob a ótica dos sistemas teológicos atualmente disponíveis. Se cremos que Deus possui onipotência e onisciência nos moldes que Calvino e Armínio concebiam em suas ideias e ainda assim não quisermos descartar os escritos inspirados do Espírito de Profecia, precisaremos assumir não apenas que tanto Deus quanto Satanás operam de fato o querer e o efetuar, conforme acabamos de ler. Precisaremos ainda crer que Deus e Satanás ambos operam o querer e o efetuar em seres que Deus já sabe que se perderão ou se salvarão, de acordo com o que Calvino e Armínio pregaram.
A ginástica mental para casar Ellen White com os teólogos evangélicos seria mais ou menos essa: o ser humano é pecador e é Satanás que está operando nele seu querer e efetuar, sem sua anuência. De supetão e movido unicamente por Seu próprio desejo, Deus rouba de Satanás essa pessoa, também sem sua devida permissão, e passa a operar nela um querer e um efetuar santificados. O Inimigo então se conforma e diz a si mesmo que está tudo bem, pois Deus afinal de contas é onipotente. Algum tempo depois, porém, percebe que aquilo não foi justo e toma novamente para si (movido por sua onipotência?) aquela alma, sobre a qual Deus, por algum estranho motivo, não tem mais qualquer intenção de operar Seu querer e efetuar. Ou pode ser ainda que, em um mesmo ser, Deus e Satanás estejam ambos operando simultaneamente o querer e o efetuar, do que resulta um comportamento parcialmente santo e parcialmente pecaminoso, tal como ilustrado no Yin Yang. Esse tipo de narrativa, que relega a vontade humana a um fator irrelevante, apresenta o ser humano como um mero joguete nas mãos dos seres sobrenaturais, o que, por estranha coincidência ou não, muito se assemelha à cosmovisão grega. Seguindo adiante, a estrada é bastante longa e parece não haver limites para a confusão mental. Qualquer tentativa de colocar para morar dentro de uma mesma casa o Espírito de Profecia e a teologia evangélica (calvinista ou arminiana) resultará em violência doméstica. Quer prova disso? Olhe para a saúde mental da juventude adventista, que foi encorajada a ter em alta conta tanto os escritos de Ellen White quanto os ensinamentos dos atuais pastores ou lideranças independentes.
Uma alternativa muito mais sadia é crer que a Sra. White TINHA CIÊNCIA dessas interpretações bíblicas equivocadas, que já duravam séculos, e estava procurando ali corrigi-las.
Terceiro ponto: a vontade humana e o poder divino cooperam
Descarte todas as ideias que não vêm da Bíblia, tais como a atemporalidade e a imutabilidade de Deus, bem como a onipotência calvinista e a onisciência arminiana que daí decorrem (link para o artigo), e de repente não serão tão desagradáveis, ininteligíveis e confusas as palavras dos profetas. De todos eles, inclusive Ellen G. White. Façamos esse exercício: imaginemos que nossas igrejas não nos mergulharam e afogaram na filosofia grega que Agostinho tanto admirava e leiamos as palavras de Ellen White à luz da literalidade bíblica, a qual grita por um Deus que muitas vezes se vê encurralado em Seus intentos diante de uma vontade humana que se recusa a cooperar:
“Você deve reconquistar a confiança em Deus e nos irmãos. Cumpre-lhe sujeitar sua vontade à vontade de Jesus Cristo; e, quando assim fizer, Deus tomará imediatamente posse, efetuando “em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade.””
Lembrando que mais ao final da carta ela insiste:
“O infinito sacrifício de Deus, porém, em dar Jesus, Seu amado Filho, para Se tornar um sacrifício pelo pecado, habilita-O a dizer, sem violar um princípio de Seu governo: “Submeta-se a Mim; dê-Me sua vontade; tire-a do domínio de Satanás, e dela Me apoderarei; então posso operar em você” efetuando em você tanto o querer como o realizar, segundo a Minha boa vontade.”
Os dois trechos são inequívocos: Deus realiza o querer e o efetuar UNICAMENTE APÓS o consentimento do indivíduo. A segunda citação, entretanto, é muito mais esclarecedora que a primeira. Atentemos para estes três detalhes: (1) o infinito sacrifício de Deus habilita-O a apelar ao pecador; (2) Deus não viola os princípios de Seu governo; (3) o ser humano é quem age para retirar sua própria vontade do controle satânico.
O primeiro detalhe pode causar algum desconforto para quem não possui clara na mente a verdade do Grande Conflito, pois pode parecer estranha a ideia de que Deus precisava fazer algo para habilitá-lo a apelar às mentes dos pecadores. E mais estranha ainda, por sua vez, pode soar a ideia de que foi apenas isso que Deus foi habilitado a fazer após o sacrifício de Cristo. Segundo a teologia convencional, tanto calvinista quanto arminiana, o sacrifício de Cristo ENCERROU o problema do mal. Entre o direito de apelar às mentes e a completa desintegração do mal há uma diferença significativa, entretanto. Isso está, por exemplo, em total consonância com uma outra carta de Ellen White, em que ela alerta para o fato de que o trono de Deus ainda pode estar em perigo. Nesse ponto, reflitamos ainda: qual das situações exige maior amor? Aquela em que Deus se torna homem sabendo que uma vida sem pecado resolveria definitivamente o mal ou aquela em que Deus se torna homem sabendo que uma vida de obediência o habilitaria a falar com poder à consciência humana? O fato de que Ele morreu “apenas” para comprar o direito de apelar aos nossos corações revela um amor que é infinitamente superior ao que popularmente se atribui a Ele. Sujeitar-se ao mundo por uma chance de convencer o homem é um amor que não se prega nos púlpitos. O amor que popularmente se atribui a Cristo é semelhante ao de um esportista que se sujeita a uma competição com a certeza de que se vencer leva a prêmio. Ele veio ciente da incerteza que permeia o coração humano e trabalha até hoje, à duras penas, para superá-la por meio de uma sublime e elevada demonstração de amor.
O segundo detalhe parece trivial, mas não é. Perceba que, a fim de não violar nenhum dos princípios de Seu governo, Deus lançou mão de uma gigantesca e dolorosa manobra, a saber, sacrificar o próprio Cristo. E ainda assim Deus segue indisposto a ferir os princípios de Seu reino: Ele não lançará mão de onipotência e/ou onisciência para pôr fim ao mal. Segue apelando às mentes e corações, constrangendo-as a permitir Sua ação contra ele. A cooperação humana manifestada na entrega da vontade a Deus é a solução divina para o mal, dentro dos santos limites impostos pelos não menos santos princípios do Seu governo. Não há como esperar que Deus autorize o retorno glorioso de Cristo antes que tal cooperação aconteça. Da parte dEle, isso seria negar os princípios do próprio governo e, em última análise, dar razão a Seu maior opositor. Se Deus lançasse mão de violenta onipotência ou ilimitada onisciência para encerrar a história humana e decretar à força a salvação de alguns, estaria inevitavelmente decretando à força a perdição de outros, que é seguramente o que Satanás faria se dispusesse dos mesmos poderes, conforme tem demonstrado ao longo dos séculos. Se lhe fosse possível decretar unilateralmente a ruína de uma alma, com toda certeza o momento de fazê-lo seria para ele o mais alegre do dia. Para deixar mais claro: decretar a perdição de uma alma antes mesmo de sua existência com o único propósito de glorificar a si mesmo é a coisa mais diabólica que alguém seria capaz de pensar. Não importa o modo como isso é feito. Se Deus fizesse isso diretamente ou se Ele investigasse o futuro distante de um indivíduo antes de seu nascimento para enxergá-lo inevitavelmente perdido, em ambos os casos os princípios de Seu reino seriam demasiadamente parecidos com os do governo de Satanás. Se enxergar o futuro de um indivíduo significará um decreto de morte para ele, Deus, tenho total certeza, jamais se permitirá olhar o futuro. E se existisse no universo ou fora dele qualquer poder que conduzisse uma de Suas criaturas à perdição antes mesmo de sua existência, Deus de pronto o eliminaria, em Sua infinita justiça. Um universo no qual fosse possível, mesmo para o próprio Deus, olhar adiante no tempo e ver de antemão uma alma se formar e ruir para a perdição eterna com absoluta certeza não seria um universo criado por Ele. Mas se a Satanás alguma vez fosse permitido criar um universo, ele provavelmente criá-lo-ia com essas características. E com êxito ele tem feito cristãos pensarem que Deus é como ele e que ele é como Deus.
Por fim, o terceiro detalhe é o de que é o ser humano que age para retirar sua própria vontade do controle satânico. Se anteriormente foi dito que o ser humano é livre e agora se diz que sua vontade está sob controle satânico, como é isso? Quando o ser humano está sob o controle de Satanás, de fato ele não é livre, mas Satanás não pode impedir Deus de abordar o homem, reabilitar sua vontade própria e constrangê-lo. Lembre-se o que vimos há pouco: esse direito Deus CONQUISTOU na cruz. Ou seja: Deus está habilitado a conceder novamente todo o vigor da liberdade a alguém quantas vezes desejar, enquanto não ficar definitivamente decidido e claro, para todos os espectadores do universo, que esse indivíduo tomou partido de algum dos lados por meio de uma decisão genuinamente livre e bem informada. Isso está em total acordo com os princípios de Seu governo e não há nada que Satanás possa dizer a respeito. Deus restitui o poder de ação do homem porque ao mesmo tempo isso é amor e justiça. Em outras palavras ainda: Deus tem o total direito de jogar o Grande Conflito dentro dos princípios que Lhe são caros, da mesma forma que Satanás o faz dentro dos seus. Deus pode devolver a plena liberdade e falar novamente à consciência de alguém que foi levado ao pecado pelo engano, do mesmo modo que Satanás pode tentar o mais santo dos homens que entretanto ainda não foi selado no perfeito caráter de Cristo.
Conclusão
Tanto Deus quanto Satanás operam no homem o querer e o efetuar, mas quem o faz sem a permissão do indivíduo é unicamente Satanás, ao contrário do que se costuma pensar a respeito de Filipenses 2:13, cujo significado se perdeu em meio à confusão teológica. Quando a favor de um pecador Deus restabelece as faculdades da vontade e requisita-as para si, tirando-as do controle do mal, nada mais está fazendo que reequilibrando as forças do Grande Conflito sem desrespeitar os princípios de Seu governo. Se o homem aceita o gentil pedido de Deus e entrega a Ele sua vontade, Filipenses 2:13 passa a operar em todo seu poder, mas assim como não há abismo fundo o bastante para Deus antes do pecado contra o Espírito Santo, também não existe plena segurança contra os ataques do Inimigo enquanto o caráter não é selado à semelhança da perfeição de Cristo. Esse é o verdadeiro Grande Conflito na sua essência: uma luta renhida até o último suspiro de cada alma.
No calor dessa guerra, costuma-se dizer que se Deus não intervir diretamente na condição espiritual de Sua igreja, ela não será reavivada, a obra não será completada, o evangelho não será pregado e Jesus não voltará. Lembremos que a carta O Exercício da Vontade foi endereçada a um único jovem, mas é igualmente um testemunho para a igreja. Portanto, as palavras de encorajamento e esperança que a Sra. White comunicou àquele rapaz valem para o professo povo de Deus como um todo:
“digo-lhe, no temor de Deus. Eu sei o que você pode ser, se colocar sua vontade do lado do Senhor.”
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