Você já deve ter feito a si mesmo uma ou mais dessas perguntas:
Como eu sou livre, se Deus conhece todo o meu futuro?
Por que orar, se Deus já sabe o que vou pedir e também já conhece tudo o que ocorre depois?
Se Deus já sabia do mal e tinha poder para impedi-lo, sendo onipotente, por que não o impediu?
Com certeza, são algumas das perguntas mais inquietantes da história humana, sobre as quais filósofos e teólogos têm se debruçado por muitos séculos. Se você já se fez essas perguntas mas não encontrou respostas convincentes nas propostas tradicionais, você deveria ler esse breve artigo, pois existe uma alternativa inteiramente bíblica para esses dilemas que tenho quase certeza que você desconhece e que é impressionante.
Os problemas de um Deus atemporal
Se você frequenta qualquer igreja, com certeza alguém já te disse que Deus habita no eterno agora. Ou você pode ter escutado de alguma outra forma, como por exemplo: (1) para Deus o passado, o presente e o futuro são a mesma coisa, (2) Ele vê o fim desde o princípio ou (3) Deus é atemporal. A ideia é a de que todo o futuro já existe para Deus como se fosse hoje. Tanto se você for católico quanto protestante ou evangélico, você seguramente já escutou essa ideia dita de alguma dessas formas.
Então um sério problema surge: Deus sabe todo o meu futuro, sabe quando e com quem eu irei me casar, sabe qual será o nome dos meus filhos e dos meus netos e sabe até se eu irei para o céu ou para o inferno. Eu tenho realmente alguma chance de escolher casar com outra pessoa, ou dar nomes diferentes para os meus filhos? E uma pergunta ainda mais inquietante: nesse cenário sou realmente eu quem escolho se vou para o céu ou para o inferno?
Algumas pessoas simplesmente dirão, sem nenhuma dificuldade, que ninguém escolhe nada. As implicações são óbvias e não cabe aqui relembrá-las. A questão realmente preocupante é outra: a maioria das pessoas insistirá em dizer que as duas coisas acontecem: o ser humano é quem escolhe, mas aquilo que ele escolhe Deus já sabe de antemão faz bastante tempo. É fácil de perceber que o problema continua o mesmo: se Deus já sabia mesmo antes de eu nascer, não há nada que eu possa fazer a respeito. O que Deus sabe não pode ser mudado.
A Abertura de Deus oferece uma alternativa
E justamente aqui entra uma alternativa que talvez você nunca tenha escutado antes, a qual oferece uma resposta incrivelmente interessante e poderosa: a Abertura de Deus. A Abertura de Deus não é uma ideia nova, mas talvez você nunca tenha escutado nada a respeito dela por conta da grande popularidade das visões tradicionais de Deus que O apresentam como atemporal. A Abertura de Deus é um amplo conjunto de ideias que podem ser resumidas em alguns pontos:
1 – Deus é melhor compreendido em uma leitura mais literal da Bíblia.
Do Gênesis ao Apocalipse, o retrato que a Bíblia apresenta não é o de um Deus atemporal, mas o de um Deus extremamente ativo na história, que tanto é livre para criar a história em tempo real, quanto concede liberdade às Suas criaturas para cocriar com Ele essa história. Uma das lições mais importantes da Bíblia é o que ocorre quando voluntariamente escolhemos aquilo não é o propósito de Deus. A Bíblia é repleta também de profecias de caráter condicional, cujo caso clássico é o de Jonas, que anuncia a destruição de Nínive, mas, diante do arrependimento que ali ocorre, testemunha a misericórdia de Deus em não destruir a cidade.
A Bíblia também apresenta histórias de orações que mudam dramaticamente o rumo dos acontecimentos. Temos Moisés intercedendo por um povo que Deus já cogitava destruir e temos um Rei Ezequias recebendo mais 15 anos de vida mesmo após Deus determinar que ele viveria apenas mais alguns dias. E temos é claro o próprio Jesus, que, ao nascer como homem, correu aqui grande risco e decidiu o futuro em nosso favor, não como quem já veio vitorioso, mas como quem conquistou a vitória diante de cenários terrivelmente desfavoráveis. O relato bíblico é o relato do amor de Deus que corre riscos e enfrenta incertezas em favor do bem de Suas criaturas.
A ideia de um Deus atemporal, portanto, tem muitas dificuldades de se enquadrar no relato bíblico. Deus experimenta o tempo de forma real e não enxerga como fixo o futuro diante de Si.
2 – A Abertura de Deus rejeita influências externas à Bíblia
Nada leva tão a sério o princípio da Sola Scriptura quanto a Abertura de Deus. Por mais vastas e amplamente respeitadas que sejam, influências externas ao texto inspirado, tais como a filosofia grega, não devem ser consultadas ao se empreender esforços para a compreensão da Bíblia. A ideia da atemporalidade divina tem claras origens no pensamento grego de Platão e sua integração com o cristianismo trouxe antes confusão do que clareza ao texto bíblico. A abertura de Deus, comparada com as visões teológicas tradicionais, é um compromisso muito mais sério com o princípio de que a Bíblia deve ser a única regra de fé.
3 – A Abertura de Deus aponta para uma religião prática
A Abertura de Deus oferece uma forte base para uma religião prática em que mesmo as menores decisões do dia a dia são muito reais e contribuem para a construção de um futuro que ainda está por ser escrito. A oração é real e Deus considera alguns de nossos pedidos ao tomar decisões. Mesmo para Deus, parte do futuro é um campo inexplorado, ainda por avançar.
Respostas às perguntas iniciais
Assim, respondendo às perguntas que foram feitas lá no início:
Como eu sou livre, se Deus conhece todo o meu futuro?
Nem todo o futuro está decidido. Deus é livre para modificá-lo agora mesmo, se assim desejar. Você também é.
Por que orar, se Deus já sabe tudo?
Deus ainda não decidiu tudo a respeito da sua vida. Sua oração, ao chegar até Ele, poderá ser decisiva.
Se Deus já sabia do mal e tinha poder para impedi-lo, sendo onipotente, porque não o impediu?
Deus, em Seu amor, criou seres genuinamente livres, que podem escolher desobedecê-lo. O amor não obriga. Se você deseja desobedecê-lo e praticar o mal, Ele permite.
Conclusão
A Abertura de Deus propõe, com base na Bíblia, que Deus não está preso a um futuro já definido, mas antes está aberto a um futuro de infinitas possibilidades, rejeitando a influência do pensamento grego que estabelece a atemporalidade divina. A abertura de Deus, por fim, é a base para uma religião prática, que confere real valor à ação humana. Todos esses pontos aqui apresentados podem ser desdobrados em muitos outros, que, no todo, oferecem uma alternativa incrivelmente consistente para as questões que envolvem, entre outras coisas, a liberdade humana e a onisciência de Deus.
Comments