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IDE - Índice de Dificuldade Evangelística

  • Foto do escritor: Economia e Evangelismo
    Economia e Evangelismo
  • 13 de dez. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 14 de jun. de 2021



Olá!


Nessa última semana, estive trabalhando em algo que me perturba desde que eu e minha esposa Vanessa começamos a juntar citações para escrever o Evangelhópolis. Dentre as várias instruções da Sra. Ellen White, esta em específico é uma das que mais me incomoda:


“Neste trabalho, todas as igrejas que foram estabelecidas devem ter uma parte, de acordo com suas diversas habilidades. Se surgirem dificuldades nos campos missionários, que a investigação interessada seja feita sem demora, para que o caminho do dever não seja oculto ou obscurecido. À medida que essas perguntas forem apresentadas aos que são sábios na sabedoria de Deus, o exame será unido ao exercício da prudência. Ao usar o conhecimento que Deus lhes deu, os homens obterão uma experiência clara e nítida. Ao exercer sua habilidade dada por Deus em ajudar a plantar o padrão da verdade em um novo território, eles receberão grande bênção. Depois de tentarem desinteressadamente obter uma compreensão correta da situação, devem se aproximar do propiciatório, pedindo intuição clara e um propósito altruísta, para que possam ver as necessidades de campos distantes. Ao pedirem ao Senhor que os ajude a avançar na obra em regiões além, eles receberão graça do alto. Eles nunca buscarão o Senhor em vão.”

The Kress Collection, p.117


Ao juntar textos do Espírito de Profecia sobre evangelismo, logo me chamou a atenção o fato de que suas instruções apontam para um evangelismo verdadeiramente espiritual, o qual não pode ser pautado por sentimentos ou vagas percepções a respeito dos melhores lugares para se trabalhar. A verdadeira espiritualidade na obra evangelística procura entender com toda dedicação a realidade concreta de cada campo missionário, seja ele próximo ou distante. Não cabe aqui lembrar de todos os apelos à fé racional feitos durante o ministério da Sra. Ellen White. O chamado para o evangelismo consistente é apenas mais um deles...


Assim eu me perguntei: se a instruções são claras a respeito de um evangelismo fervoroso, consciente, bem informado e inteligente, por que os adventistas do sétimo dia têm em tão alta estima o evangelismo místico, que atira para todo lado, não tem lógica e espalha missionários por aí sem qualquer critério ou diretriz? O principal motivo para isso, de acordo com as pesquisas que eu e a Vanessa fizemos, é a supremacia do evangelismo por metas móveis, que tentamos descrever no livro Evangelhópolis.


Uma vez entendido isso, outra pergunta surgiu: como então deve ser um evangelismo bíblico, movido por fé racional e não por vagas sensações? No capítulo 7 do Evangelhópolis, levantamos algumas instruções bíblicas e comentários de Ellen White, que podem ser resumidos na citação inicial dessa postagem. Em resumo: é necessário começar a construir, com pesquisa e oração, um visão mais clara sobre o evangelismo, quer seja a nível local ou mundial.


Comecei a pensar na necessidade de se ter bons indicadores sobre evangelismo, que ao mesmo tempo sejam claros, úteis e reflitam fatos relevantes. Esses indicadores precisam nos mostrar ao menos alguma realidade sobre importantes questões como o estado do avanço evangelístico e da quantidade de recursos evangelísticos que é necessária ou que está sobrando em cada região do Brasil ou do Planeta.


Ao passar as ideias para uma planilha, trabalho que empreendi ao longo da última semana, o resultado foi o IDE - Índice de Dificuldade Evangelística (apenas me atentei para a sigla algum tempo depois de idealizar o nome...). A planilha completa e os documentos de onde tirei os dados estão anexados no final da postagem.


Em resumo, o IDE é um número índice que procura revelar a real dificuldade evangelística para a pregação das três mensagens angélicas em determinada região da Terra, que pode ser um país ou uma região menor dentro de um país. Foram apuradas 310 regiões no mundo, incluindo 54 regiões do Brasil (país com maior número de adventistas).


Para explicar mais didaticamente o IDE, usarei o exemplo do Vietnam:

O Vietnam possui um IDE de 0,45, o que faz dele o 54º país ou região do mundo mais difícil de evangelizar, de um total de 310.


Mas de onde vem o 0,45? Esse índice nada mais é que:

(Índice de opressão + Índice de restrição material + Índice de escassez de missionários)/3


Vamos ver o que é cada um desses três índices que compõem o IDE.


* Índice de opressão: composto por dois indicadores de liberdade religiosa divulgados pela Pew Research Center, instituto de pesquisa norte-americano. O primeiro indicador é o GRI - Government Restrictions Index, que mede as restrições que cada governo nacional impõe à liberdade religiosa em seu território. O segundo indicador é o SHI - Social Hostilities Index, que mede a hostilidade e intolerância religiosa por parte da população. Em ambos os casos, quanto maior número, maior é a opressão. O interessante dessa pesquisa é a distinção entre opressão governamental e social. Para o caso do Vietnam, os resultados são:

No Vietnam, o maior problema para o missionário é o governo (para se ter uma noção, o GRI da Síria é 8.4, ao passo que o do Brasil é 2.45). O povo vietnamita, por sua vez, é relativamente tolerante à liberdade religiosa (na Síria, o SHI é 9). Mas esse nem sempre é o caso: na África do Sul, por exemplo, o GRI é 0.8, enquanto o SHI é 3.9, o que indica que ali as hostilidades partem do povo e não do governo. Sobre a média das notas de GRI e SRI é feito um pequeno tratamento estatístico para ajuste da amostra e normalização dos dados, chegando ao número índice.


* Índice de restrição material: nada mais é do que o constrangimento financeiro a que os obreiros estão expostos na região, o qual pode dificultar ou atrasar a pregação do evangelho. Esse índice vem do PIB per capita corrigido pelo poder de compra de cada região (dados do Banco Mundial). Chega-se ao índice pelo valor inverso do PIB per capita (quanto menor a renda, maior a restrição de recursos). São feitos alguns tratamentos estatísticos para ajuste dos dados. O Vietnam tem um índice de restrição material de 0.19, que é pequeno perto da restrição de países africanos (0.70 no Congo, por exemplo), porém grande se comparado a países europeus (0.05 na Hungria).


* Índice de escassez de missionários: é a população total no país ou região dividida pelo número de adventistas. Ou seja: é a escassez de missionários em relação ao tamanho da população à qual o evangelho precisa ser apresentado. Ainda que nem todos os adventistas sejam de fato missionários (sabemos bem disso), é razoável esperar que a proporção entre bons e maus adventistas seja um tanto semelhante nos diversos cantos do mundo. Em resumo, o número de adventistas é uma boa aproximação para a quantidade de missionários porque, assumindo que a proporção entre bons e maus adventistas seja mais ou menos uniforme em qualquer lugar, o número de bons adventistas tenderá a ser tanto maior quanto maior for o total de adventistas. Com isso eu quero dizer que, mesmo se imaginarmos, por exemplo, que em geral apenas 5% dos adventistas são missionários de verdade e vivem a Bíblia, em um país com 1,7 milhão de adventistas (Brasil), podem estar trabalhando agora mesmo 85 mil missionários! Entretanto, no Vietnam existem apenas 13569 adventistas. Assumindo também que apenas 5% são missionários, há ali apenas 678 missionários para uma população de 96 milhões... O volume de trabalho muito maior que o missionário vietnamita precisa empreender é por si só uma dificuldade adicional, a qual é refletida em um índice de escassez de missionários de 0.72. No Brasil, mesmo na região mais carente de missionários, o índice é 0.25 (Rio de Janeiro).


Enfim, somando os três índices do Vietnam: 0.45 (opressão) + 0.19 (restrição material) + 0.72 (escassez de missionários) e dividindo-os por três, chegamos a 0.45, que pode ser considerado uma dificuldade alta (ao menos muito mais alta que o lugar com maior dificuldade evangelística no Brasil, o Piauí, com 0.21).


Esse é basicamente o IDE. Não tenho dúvidas de que ele é apenas um esboço e precisa ser melhor pensado, no que conto com a ajuda dos meus irmãos.


Nas próximas postagens, gostaria de propor algumas reflexões sobre o que de fato significa o IDE de cada país, que tipo de informações ele realmente apresenta e com que propósito ele pode ser usado. Não menos importante é saber o que ele NÃO significa e em que situações ele não deve ser usado. Também gostaria de apresentar algumas considerações que entendi relevantes ao analisar o mundo todo e o Brasil em específico.


Um forte abraço a todos!


Lucas



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