“As reuniões de intercâmbio social podem ser no mais alto grau tornadas úteis e instrutivas quando os que se reúnem têm o amor de Deus a lhes arder no coração, quando se reúnem para trocar ideias sobre a Palavra de Deus, ou para considerar métodos para o avanço de Sua obra, e fazer bem aos seus semelhantes.”
Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p.82
Antes de mais nada, gostaria de adiantar que o apelo que farei adiante NÃO É APENAS para o adventista do sétimo dia cuja fé consiste unicamente em ir à igreja aos sábados. Quero desde logo deixar claro que o principal destinatário desse breve texto é o adventista da Verdade Presente, que é consciente da necessidade de todas as reformas de caráter, entende a mensagem de vida no campo, tem plena convicção de que a vitória sobre o pecado é possível por meio de Jesus e já superou o medo de direcionar dízimos e ofertas aos projetos evangelísticos que realmente cumprem a Grande Comissão.
Dito isso, consideremos a passagem de Testemunhos para Ministros, a qual enumera algumas condições ou alternativas para que as reuniões de intercâmbio social entre cristãos se tornem úteis e instrutivas:
* Os irmãos devem ter o amor de Deus ardendo no coração;
* Deve haver troca de ideias sobre a palavra de Deus;
* Deve-se fazer o bem aos semelhantes;
* As ocasiões devem servir para que os irmãos considerem métodos para o avanço da obra.
Existe alguma dúvida de que o povo de Deus tem o amor dEle a arder no coração? Existe alguma dúvida de que, quando se reúne, o povo de Deus troca valiosas ideias sobre a Palavra de Deus ou faz bem aos seus semelhantes? A resposta é não para ambas as perguntas.
Entretanto, quando se reúne, mesmo informalmente, o povo de Deus passa algum tempo considerando métodos para o avanço da obra? O povo de Deus realmente conversa sobre questões tais como:
* Bairros ou cidades próximas que NÃO foram ainda alcançadas pelo evangelho?
* Bairros ou cidades que JÁ foram alcançadas pelo evangelho, mas que continuam recebendo mais recursos evangelísticos do que o necessário?
* A quantidade de recursos, obreiros ou famílias necessárias para evangelizar uma região?
* As formas de se convocar famílias para se estabelecer em lugares necessitados de presença adventista?
* As possibilidades de evangelismo fora do Brasil e o modo de financiá-las?
* As ferramentas necessárias que precisam ser ensinadas aos jovens adventistas que desejam ir trabalhar na obra em terras estrangeiras?
* O estabelecimento de campanhas de treinamento evangelístico para jovens e famílias?
* Os modos pelos quais detentores de recursos podem ser sensibilizados a aportar para o apressamento da volta do Senhor?
Será que essas coisas realmente são tratadas entre o povo de Deus? Ou permanecem sendo tabus? Que os irmãos evitam de conversar a respeito dessas coisas talvez seja apenas sensação minha. Espero de todo coração que seja, mas se não for, vale a pena lembrar que quando aquele povo de Deus que é simples e não está em posição de liderança deixa de conversar sobre os métodos para o avanço da obra sob a alegação de que é assunto para líderes, esses próprios líderes correm o risco de se perder em suas próprias ideias.
“O Senhor deseja interromper o curso da precisão que se tornou tão firmemente estabelecido, o que dificultou em vez de avançar sua obra. Ele deseja que seu povo se lembre de que existe um grande espaço sobre o qual a luz da verdade presente deve ser derramada. A sabedoria divina deve ter espaço abundante para trabalhar. É avançar sem pedir permissão ou apoio daqueles que tomaram para si um poder real. No passado, um grupo de homens tentou manter em suas próprias mãos o controle de todos os meios provenientes das igrejas, e usou esses meios de maneira demasiadamente desproporcional, erguendo edifícios caros onde tais construções eram desnecessárias, e deixando lugares carentes sem ajuda ou incentivo. Eles assumiram a grave responsabilidade de retardar o trabalho onde o trabalho deveria ter sido avançado. Foi deixado para algumas supostas mentes gentis dizer quais campos deveriam ser trabalhados e quais deveriam ser deixados sem trabalho. Alguns homens mantiveram a verdade em canais circunscritos, porque abrir novos campos exigiria dinheiro. Somente naqueles lugares em que estavam interessados eles estavam dispostos a investir em meios. E, ao mesmo tempo, em alguns lugares, cinco vezes o dinheiro necessário foi investido em edifícios. A mesma quantidade de dinheiro usada no estabelecimento de plantas em lugares onde a verdade nunca foi introduzida traria muitas almas a um conhecimento salvador de Cristo.”
Spalding and Magan Collection, p.174,175
Alguém poderá dizer (com razão): “esse texto está se referindo às más lideranças, não às boas”. Entretanto, quais são as chances de que mesmo um bom líder não acabe por se perder em ciclos contínuos de más decisões quando seus liderados abrem mão de fomentar um espaço sadio de boas, santas e cristãs ideias?
Veja que “FOI DEIXADO para algumas supostas mentes gentis dizer quais campos deveriam ser trabalhados e quais deveriam ser deixados sem trabalho”, o que mostra um claro sinal de passividade. Se um líder não possui outras ideias para as quais recorrer que não as próprias, obviamente sua única opção é guiar-se por si mesmo (e provavelmente errar).
Alguém poderá dizer (sem razão): o líder precisa apenas de instruções diretas da parte de Deus e nada mais. Ellen White escreve, a respeito da instrução dada por Jetro ao sobrecarregado Moisés, que julgava o povo de Israel sozinho:
“O Senhor havia honrado a Moisés grandemente, e operara prodígios pela sua mão; mas o fato de que fora escolhido para instruir a outros não o levou a concluir que ele próprio não necessitava de instrução. O escolhido dirigente de Israel ouviu alegremente as sugestões do piedoso sacerdote de Midiã, e adotou-lhe o plano como uma sábia disposição.”
Patriarcas e Profetas, p.261
O grande líder de Israel, que falava com o próprio Deus, foi grandemente aliviado de seus fardos graças a uma singela visita e uma conversa aparentemente despretensiosa, que culminou em uma ideia maravilhosa, simples e eficiente. Essa história ilustra bem o sofrimento pelo qual um líder pode passar quando está inserido em um ambiente árido de ideias. Guiado apenas por suas próprias ideias, mais cedo ou mais tarde acabará falhando…
A bem da verdade, estou sendo até discreto e tímido em minha argumentação a favor da necessidade de constante troca de ideias e planos conjuntos entre os irmãos. A Sra. Ellen White não pegou leve como estou fazendo. Ao contrário, ela denunciou como uma oportunidade para Satanás a situação de perigo que surge quando os irmãos deixam de se consultar entre si.
""Aconselhai-vos juntamente", eis a mensagem que me tem sido muitas vezes dada pelo anjo de Deus. Influenciando a mente de um homem, pode Satanás dirigir as questões a seu jeito. Poderá ser bem-sucedido em levar para uma errônea direção o espírito de duas pessoas; mas quando várias se consultam entre si, a segurança é maior. Todo plano será mais meticulosamente estudado. Assim haverá menos perigo de atos precipitados, imprudentes, que trouxessem confusão e perplexidade. Há força na união; na divisão, fraqueza e derrota."
Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 29, 30.
Evidentemente, esse é apenas um dos vários motivos pelos quais é sadio cultivar e trocar ideias práticas sobre evangelismo: o ambiente sadio de boas ideias e seres pensantes criados à imagem e semelhança de Deus é uma poderosa rede de apoio tanto à liderança quantos aos liderados. Reflita-se ainda sobre o quanto esse aconselhamento conjunto pode aumentar a comunhão entre os irmãos, estimular a pesquisa e o estudo e injetar ânimo em corações angustiados e adoecidos.
E que o povo de Deus não se contente em simplesmente aceitar que precisa aproveitar os encontros sociais para conversar mais a respeito de métodos para o avanço da obra, mas também se questione sobre os motivos que o leva a se calar sobre o assunto do evangelismo (se isso de fato acontece): há timidez, receio ou medo? Há espírito de discórdia, paixões exacerbadas ou posições inegociáveis?
Mais cedo ou mais tarde, precisaremos estar intelectualmente e espiritualmente convencidos de que é algo bom, sadio e próprio da reunião entre os irmãos as conversas sobre aspectos práticos do evangelismo:
“O repouso que Cristo e os discípulos fizeram, não era uma complacência consigo mesmos. O tempo que passaram afastados não foi consagrado à busca do prazer. Falavam entre si a respeito da obra de Deus, e da possibilidade de torná-la mais eficiente. ”
O Desejado de Todas as Nações, p.361.
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