Hoje pela manhã recebi em meu celular esse vídeo, que o remetente recomendava como sendo uma boa reflexão.
O curto vídeo retoma a antiga e persistente mensagem de que ninguém precisa "transpor o mar para ser um missionário" e que o melhor e mais sábio a se fazer é ingressar em uma
faculdade, ter um emprego e aproveitar as oportunidades de evangelismo que surgirem ao longo do caminho. É uma sábia senhora que ensina isso a um jovem incauto, o qual por pouco não fez a loucura de largar os estudos para se tornar um missionário.
Em seguida, um argumento curioso: Jeremias 29, em que consta uma mensagem da parte de Deus ao povo de Israel que está prestes a entrar em Babilônia, para lá permanecer exilado por setenta anos. Os israelitas são orientados a, uma vez instalados em seu novo lar exílico, casar, trabalhar e seguir a vida normalmente.
A reflexão final é: do mesmo modo que o povo de Israel foi orientado a tocar a vida na Babilônia e glorificar a Deus naquele lugar, o povo de Deus hoje, o qual está imerso na Babilônia das universidades e empresas, deve tocar ali sua vida e aproveitar as chances de evangelismo que surgirem.
Primeiramente, vamos considerar a mensagem da sábia irmãzinha ao jovenzinho inexperiente: "não invente moda... termine o ensino médio, entre em uma faculdade, consiga um emprego (o vídeo só menciona empregos que exigem alta escolaridade, tais como professor, médico e empresário) e aguarde as oportunidades de evangelismo". Tenho bons motivos para crer que essa sábia irmãzinha não é a Sra. Ellen G. White, que foi clara a respeito da escolas tradicionais:
"A volta a métodos mais simples será apreciada pelas crianças e jovens. O trabalho no jardim e no campo será agradável mudança da fatigante rotina das lições abstratas a que nunca se deveria limitar sua mente juvenil. Para a criança nervosa, que acha as lições dos livros exaustivas e difíceis de lembrar, isso será de especial valor. Há saúde e satisfação para ela no estudo da Natureza; e as impressões causadas não se lhe apagarão da memória, pois se acharão associadas a objetos que estão continuamente diante de seus olhos." Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 445.
Além disso, ela não desejava que apenas alguns, mas TODOS os jovens adquirissem preparo para o serviço na causa de Deus:
"Tenho profundo interesse nos jovens, e desejo muito vê-los lutando para aperfeiçoar o caráter cristão e procurando, pelo estudo diligente e fervorosa oração, adquirir o preparo necessário para o serviço aceitável na causa de Deus. Desejo vê-los ajudando-se uns aos outros a alcançar um plano mais elevado de experiência cristã." Mensagens aos Jovens, pág. 15.
Quero que os leitores se perguntem: a melhor forma de preparar um jovem para a causa de Deus de fato é retê-lo em uma cidade, colocá-lo a trabalhar em uma empresa durante o dia (quantas delas fazem algo que eleva os pensamentos do jovem a Deus?) e enfiá-lo em uma sala de aula à noite?
Que tal se o conselho ao jovem fosse: "ore intensamente para que seus pais entendam a necessidade de morar no campo. Lá você poderá estar mais próximo de Deus e aprender o manejo do solo, bem como outros ofícios manuais que serão muito mais do que suficientes para o seu sustento (não sei se um jovem adventista recém formado em engenharia elétrica teria o sustento assim tão garantido...). Devidamente preparado e apegado a Deus, procure um lugar sem presença adventista e vá pescar almas que nunca antes tiveram a chance de abraçar a verdade (se bem que o jovem adventista na faculdade de Engenharia Elétrica teve uma ou duas chances de defender o criacionismo diante de um colega ateu). A irmãzinha adventista do vídeo possui apenas um fato a seu favor: a Igreja Adventista não possui centros de treinamento para jovens que desejam ser missionários.
Por fim, consideremos a mensagem de Jeremias 29: ela defende a irmãzinha adventista?
O povo de Israel havia falhado em ser uma benção a todas as nações (Gen. 12-2) e agora NÃO POSSUÍA OUTRA OPÇÃO a não ser passar setenta anos em Babilônia, conforme Deus determinara. É evidente que se alguém está fadado a passar setenta anos em um lugar, o melhor que ele ou ela pode fazer é tentar viver ali da melhor forma possível. As opções que o povo de Israel possuía eram: viver mal e longe de Deus na Babilônia por setenta anos ou viver bem e próximo de Deus na Babilônia por setenta anos. Deus indicou fortemente a segunda opção.
Pergunto: o povo de Deus hoje ESTÁ PRESO à Babilônia?
“Dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta do Senhor. Não nos cabe apenas aguardar, mas apressar o dia de Deus. Houvesse a igreja de Cristo feito a obra que lhe era designada, como Ele ordenou, o mundo inteiro haveria sido antes advertido, e o Senhor Jesus teria vindo à Terra em poder e grande glória.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 633,634.
Desde 1844, o que tem prendido o povo de Deus à Babilônia é primeiramente a falta de santificação:
“Se todos os que haviam trabalhado de forma unida na obra de 1844 houvessem recebido a mensagem do terceiro anjo e a proclamado no poder do Espírito Santo, o Senhor teria operado poderosamente em conexão com tais esforços. Um dilúvio de luz ter-se-ia derramado sobre o mundo. Há muitos anos os habitantes da Terra haveriam sido advertidos, o encerramento da obra completado, e Cristo já teria voltado para a redenção de Seu povo.” Testemunhos para a Igreja 8, p.115
E, em segundo lugar, o desprezo pela missão mundial (as duas coisas sempre acontecem tão juntas, que é difícil acreditar que não sejam uma coisa só):
"Ela [a vinda do Senhor] não será retardada para além do tempo em que a mensagem for levada a todas as nações, línguas e povos." The Review and Herald, 18 de Junho de 1901
O Pr. Herbert Douglass arremata:
"Os adventistas creem que Jesus poderia ter voltado na época de qualquer geração desde 1844 - bem antes da explosão populacional, do desequilíbrio ecológico, das armas nucleares, da crise de energia, de Adolf Hitler, da Segunda Guerra Mundial e do estado moderno de Israel, para mencionar apenas alguns dos eventos e condições que muitos têm apontado como evidências de que estamos nos últimos dias." Por que Jesus ainda não voltou? p. 16,17
Podemos ainda acrescentar à lista do Pastor Douglass o Covid-19...
Enfim, por que todos esses textos? Unicamente para demonstrar que a senhorinha adventista do vídeo poderia talvez estar certa na Babilônia do cativeiro israelita, mas não hoje. Um jovem hebreu de 15 anos recém chegado ao exílio faria muito bem em se habituar ao novo lar e tentar dar o seu melhor naquele lugar, de onde ele só poderia sair quando tivesse 85 anos (grandes eram as chances de ele morrer por lá). Ao jovem adventista de hoje é dada a promessa de que o cativeiro acabará tão logo o evangelho seja pregado a todas as nações... Como é possível acreditar que um jovem cristão sincero aceitará ficar parado e gastar suas forças para tentar convencer colegas ateus de faculdade (que decididamente rejeitam o evangelho vez após vez) ou com colegas de trabalho que mil e uma vezes receberam insensivelmente as boas novas do evangelho? Como é possível esperar que um jovem adventista, após saber que metade das pessoas do mundo nunca ouviu a respeito de Jesus, aceitará a ideia de evangelizar pessoas que já tiveram 10 ou 15 chances de escutar sobre as boas novas?
Satanás não poderá enganar os jovens adventistas por muito tempo. Virá à tona o fato de que grande parte das cidades brasileiras (onde os jovens estudam e trabalham) está suficientemente evangelizada e ninguém mais conseguirá convencê-los a continuar nas suas cidades entregando copos de água em sinaleiros e chamando isso de evangelismo.
De fato, aquele vídeo que recebi hoje de manhã foi uma boa reflexão, sobre o que não dizer a um jovem...
Um forte abraço a todos!
Lucas
"E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim."
Mateus 24:14
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